Direito Turma PQ 43 - Unip Santos Rangel
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Introdução à Filosofia

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Introdução à Filosofia Empty Introdução à Filosofia

Mensagem por Admin Dom Abr 03, 2016 5:09 pm

Neste primeiro módulo da disciplina Filosofia do Direito vamos abordar as considerações iniciais sobre a filosofia geral para que, após a consolidação de alguns conceitos essenciais, possamos adentrar no âmbito da Filosofia do Direito.

A palavra filosofia é grega[1]. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.

Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Segundo Pitágoras, a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Por meio da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.

Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e as formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em muitas culturas, a coruja é a ave que simboliza a sabedoria[2]. Isso se deve ao fato de que, na tradição grega, a coruja foi vista como a ave de Athena (Minerva, para os romanos), ou seja, como símbolo da racionalidade e da sabedoria, como a representação da atitude desperta, que procura, que age sob o fluxo lunar, e que não dorme quando se trata da busca do conhecimento.

Associada à capacidade de enxergar mesmo nas trevas, seus grandes olhos voltados para a compreensão, para a observação, são suficientemente significativos para traduzirem a ideia de que a busca da sabedoria pressupõe um olhar atento para a compreensão do mundo (CHEVALIER, 2005 apud BITTAR & ALMEIDA, 2008, p. 1,2).

Em sua obra: “Curso de Filosofia do Direito”, Bittar & Almeida (2008) chamam a nossa atenção para o fato de que “uma longa experiência que seja não refletida, mas mecanicamente vivida, não é sinônimo de sabedoria adquirida. A sabedoria realmente evoca experiência e capacidade de absorção reflexiva da experiência mundana, esta predisposição de voltar-se para o processo de convívio com o espanto diante do mundo”.

Os especialistas referem-se a construções de mosteiros e de fortalezas no período medieval como uma outra metáfora para explicar a questão da sabedoria.

Os mosteiros construídos em regiões mais altas, as fortalezas num alto penhasco. Em ambos os casos, observam-se consideráveis distâncias da vida urbana, de onde se pode ter ampla visão do todo.

Os mosteiros, lugares de reclusão, de ligação com o divino, propiciam aos monges a condição de serem mediadores entre o mundo humano e o divino. A capacidade de os monges orientarem resulta da sua condição de ver muito além do que os homens conseguem ver.

Já das fortalezas no exercício de seu papel defensivo contra os inimigos de uma sociedade vulnerável a toda sorte de ataques e embates, os sentinelas podem ter ampla visão de tudo para propor o aviso estratégico ou de propor o ataque sobre o perigo iminente do invasor.

Para os autores, a visão de um filósofo não é a de um especialista, mas a de um conhecedor das diversas perspectivas em que se inscreve a vivência mundana e suas questões, em geral, seus grandes dilemas. Sua visão não é a visão local, a do cientista, mas a visão geral, abrangente. O filósofo observa diversos aspectos de questões abrangentes, suas observações se dão de modo integral e holístico. Suas questões são enigmáticas para a condição humana. O filósofo lida com questões aporéticas [dúbias, paradoxais], (Que é ser? Qual é a natureza humana? Qual o sentido da vida? Qual a melhor forma de governo? Como se pode definir justiça?). Assim, busca um lugar privilegiado para observação. Distancia-se para compreender, ora para contemplar tal qual o monge, ora para ter a certeza da mais clara estratégia defensiva, como o guerreiro (BITTAR & ALMEIDA, 2008).

Nas palavras dos autores, “ao usar o pensamento como força de compreensão, acaba por agir sobre o mundo, e isto porque, ao utilizar o ferramental da razão, se posta como sentinela e defensor da garantia de que a razão será conservada na vida social como um distintivo fundamental da condição humana. (...) A filosofia exerce uma verdadeira vigília dirigida a si mesma e ao mundo circundante, dedicada a cumprir uma tarefa de fundamental importância para a existência humana” (BITTAR & ALMEIDA 2008, p.4).

Como visto até este momento o filósofo volta-se à busca pelo conhecimento, pela sabedoria. Assim, devemos indagar: para que filosofia? [3]

Ao tomar distância da vida cotidiana e de si mesmo, indagando sobre as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência, o homem estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer o porquê de suas crenças e sentimentos. Essa atitude recebe o nome de atitude filosófica.

ATITUDE FILOSÓFICA = APRECIAÇÃO DISTANCIADA DO OBJETO DE REFLEXÃO.

A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.

A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico.

ATITUDE CRÍTICA = NEGAR O PRÉ-ESTABELECIDO (1° PASSO) PARA PODER PROVOCAR, INDAGAR (2° PASSO).

A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto.

Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, por meio de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e como somos.

Todas as pretensões das ciências pressupõem que elas acreditem na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.

Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.

Características da atitude filosófica que independem do conteúdo investigado:

- perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a ideia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual;

- perguntar como a coisa, ou o valor, ou a ideia, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma ideia ou um valor;

- perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor.

As perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão.

A Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo.

Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo.

A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento.

A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:

1. Quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?

2. Qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?

3. Qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?

Crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento?

A atitude filosófica inicia-se com perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.

A reflexão filosófica indaga, dirige-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.

A Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos valores.

A Filosofia volta-se também para o estudo da consciência em suas várias modalidades: percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões; procurando descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros.

A Filosofia visa ao estudo e à interpretação de ideias ou significações gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, história, subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, contradição, mudança etc.

Em outras palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que pensar e dizer e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer.

Essa descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise (das condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se como capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas), estando essas três atividades (análise, reflexão e crítica) orientadas para elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos.

Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas, indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O que é o ser e o aparecer-desaparecer dos seres?

A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e os conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e as formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e a avaliação crítica de conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humana, conhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres; a Filosofia sabe que está na História e que possui uma história.

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.

Traçadas as delineações gerais do que vem a ser a filosofia é importante retomarmos algumas considerações a respeito do seu surgimento na Grécia para que possamos, dessa forma, pontuar algumas fases que são importantes ao estudo desta disciplina.

A Filosofia surgiu quando alguns pensadores gregos se deram conta de que a verdade do mundo e dos humanos não era secreta e misteriosa, que precisasse ser revelada por divindades a alguns escolhidos, mas, ao contrário, podia ser conhecida por todos por meio de operações mentais de raciocínio, que são as mesmas em todos os seres humanos. Descobriram que a linguagem respeita exigências do pensamento, o que, por esse mesmo motivo, os conhecimentos verdadeiros podem ser transmitidos e ensinados a todos.

Assim, considerando esse momento de questionamento e consequente surgimento da filosofia podemos delimitar, desse modo, alguns traços da atividade filosófica desde o seu nascimento:

1. Tendência à racionalidade: os gregos foram os primeiros a definir o ser humano como animal racional, a considerar que o pensamento e a linguagem definem a razão, que o homem é um ser dotado de razão e que a racionalidade é um traço distintivo em relação a todos os outros seres.

2. Recusa de explicações pré-estabelecidas: cada fato exige uma explicação racional como resultado de investigação.

3. Tendência à argumentação e ao debate: nenhuma solução pode ser aceita sem que tenha sido demonstrada, isto é, provada racionalmente em conformidade com princípios e regras do pensamento verdadeiro.

4. Capacidade de generalização: mostrar que uma explicação tem validade para muitas outras coisas diferentes ou muitos fatos diversos, porque sob a aparência da diversidade e variação, pode-se descobrir semelhanças e identidades. A capacidade racional chama-se síntese (palavra grega que significa reunião, fusão de várias coisas numa união íntima para formar um todo).

5. Capacidade de diferenciação: mostrar que fatos ou coisas que parecem iguais ou semelhantes, na verdade, são diferentes quando examinados pela razão. A capacidade racional de compreender diferenças em coisas nas quais parece haver identidade e semelhança, chama-se análise (palavra grega que significa ação de desligar, separar, resolução de um todo em suas partes).

Com a Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica e arte.

No tocante a história da Grécia [4] é válido salientar que essa costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes fases ou épocas:

1. A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia;

2. A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V a.C., quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos etc., com predominância da economia urbana, baseada no artesanato e no comércio;

3. A da Grécia clássica, nos séculos V e IV a.C., quando a democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar;

4. E, finalmente, a da época helenística, a partir do final do século IV a.C., quando a Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois, para as mãos do Império Romano, terminando a história de sua existência independente.

Os períodos da Filosofia não correspondem exatamente a essas épocas, já que ela não existe na Grécia homérica e só aparece nos meados da Grécia arcaica. Entretanto, o apogeu da Filosofia acontece durante o apogeu da cultura e da sociedade grega; portanto, durante a Grécia clássica.

Estabelecida a divisão em períodos da história da Grécia cumpre estabelecermos a divisão, também em períodos, da filosofia grega.

1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final o século V a.C., - a origem do mundo e as causas das transformações na natureza.

2. Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século IV a.C., - a ética, a política e as técnicas (em grego, ântropos = homem, período antropológico).

3. Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C., - busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia; busca mostrar o objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência.

4. Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até o século VI d.C. Esse período alcança Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja. A Filosofia se ocupa, sobretudo, com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com Deus.

Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da Filosofia grega têm como referência o filósofo Sócrates de Atenas, de onde vem a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática.

No tocante ao período pré-socrático ou cosmológico é importante que nos atentemos às seguintes escolas filosóficas e aos filósofos que as integraram:

1. Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso;

2. Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;

3. Escola Eleata: Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia;

4. Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.

Com relação à cosmologia é oportuno observar as seguintes características:

1. Busca explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a natureza, a Filosofia explique a origem e as mudanças dos seres humanos.

2. Nega que o mundo tenha surgido do nada, como acredita a religião judaico-cristã, segundo a qual Deus cria o mundo do nada. Por isso diz: “Nada vem do nada e nada volta ao nada”. Isso significa:

a) que o mundo, ou a natureza, é eterno;

b) que no mundo, ou na natureza, tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer, embora a forma particular que uma coisa possua desapareça com ela, mas não sua matéria.

3. Afirma que o mundo é eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo volta é invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, isto é, para o pensamento.

4. Entende que o mundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna é o elemento primordial da natureza e chama-se physis (em grego,physis = fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir). A physis é a natureza eterna e em perene transformação.

5. Considera que, embora a physis (o elemento primordial eterno) seja imperecível, ela dá origem a todos os seres infinitamente variados e diferentes do mundo, seres que, ao contrário do princípio gerador, são perecíveis ou mortais.

6. Afirma que todos os seres, além de serem gerados e de serem mortais, são seres em contínua transformação, mudando de qualidade (por exemplo, o branco amarelece, acinzenta, enegrece; o novo envelhece, o quente esfria, o dia se torna noite, a primavera cede lugar ao verão, o saudável adoece, a criança cresce etc.) e mudando de quantidade (o pequeno cresce e fica grande, o longe fica perto, um rio aumenta de volume na cheia e diminui na seca etc.). Portanto, o mundo está em mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade.

A mudança - nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade - chama-se movimento e o mundo está em movimento permanente.

O movimento do mundo chama-se devir (vir a ser, transformar-se, tornar-se, metamorfosear-se) e segue leis rigorosas que o pensamento conhece, que mostram que toda mudança é passagem de um estado ao seu contrário: dia-noite, claro-escuro, cheio-vazio, um-muitos etc., e também no sentido inverso, noite-dia. O devir é, portanto, a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário. Uma passagem que não é caótica. Obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo.

Alguns filósofos gregos, do período pré-socrático, acreditavam na existência de um princípio eterno e imutável do qual teria resultado a natureza e pelo qual a natureza permaneceria em constante transformação.

Veja-se, por exemplo, o que pensavam alguns dos filósofos: Tales dizia que o princípio era a água ou o úmido; Anaximandro considerava que era o ilimitado sem qualidades definidas; Anaxímenes, que era o ar ou o frio; Heráclito afirmou que era o fogo; Leucipo e Demócrito disseram que eram os átomos. E assim por diante.

Após essas considerações imprescindíveis a respeito do surgimento da Filosofia, notadamente no que tange à Filosofia Grega, pois a Grécia, como visto, foi o berço de seu nascimento, vamos agora traçar algumas delineações gerais a respeito da filosofia na história[5].

Dessa forma, teremos, já neste primeiro módulo de estudo, uma visão holística sobre os caminhos que percorremos nos módulos seguintes.

De se registrar que foi dada maior atenção à Filosofia Grega uma vez que é daí que partem os demais filósofos, inclusive aqueles que realizarão, na Idade Média, uma releitura dos filósofos que sucederam Sócrates.

Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história.

Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, da qual ela faz parte.

Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou, frequentemente, tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de conhecer podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas separadas.

A Filosofia teve seu campo de atividade aumentado:

No século XVIII, a filosofia da arte ou estética;
No século XIX, a filosofia da história;
No século XX, a filosofia das ciências ou epistemologia e a filosofia da linguagem. Por outro lado, o campo da Filosofia diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram-se desligando para constituir suas próprias esferas de investigação. É o que acontece, por exemplo, no século XVIII, quando se desligam da Filosofia a biologia, a física e a química;
No século XX, as chamadas ciências humanas (psicologia, antropologia, história).
Pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes de maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que os historiadores dividem a História da sociedade ocidental.

Assim, os principais períodos da Filosofia são: Filosofia Antiga, Filosofia Patrística, Filosofia Medieval, Filosofia da Renascença, Filosofia Moderna, Filosofia da Ilustração ou Iluminismo e Filosofia Contemporânea.

A Filosofia Antiga (século VI A.C. ao século VI D.C) compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, indo dos pré-socráticos aos grandes sistemas do período helenístico, mencionados linhas acima.

A Filosofia Patrística (século I ao século VIII) inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve início a Filosofia medieval.

A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros padres da Igreja para conciliar a nova religião - o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e dos romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos.

Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio.

A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.

Para impor as ideias cristãs, os padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis.

Surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional.

O grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais:

1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque absurdo”).

2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio para compreender”).

3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura).

No tocante à Filosofia Medieval (século VIII ao século XIV) saliente-se que essa abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas. A partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é conhecida com o nome de Escolástica.

A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles, embora o Platão que os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da Filosofia de Plotino, do século VI d.C.), e o Aristóteles que conhecessem fosse aquele conservado e traduzido pelos árabes.

Conservando e discutindo os mesmos problemas que a Patrística, a Filosofia medieval acrescentou outros - particularmente um, conhecido com o nome de "Problema dos Universais" - e, além de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande influência das ideias de Santo Agostinho. Durante esse período surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do infinito criador e do espírito humano imortal.

A diferença e a separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e a separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O universo como uma hierarquia de seres, em que os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal de reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os grandes temas da Filosofia medieval.

Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela inventado para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros padres da Igreja.

Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa - teses, refutações, defesas, respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo).

Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi.

A Filosofia da Renascença (século XIV ao século XVI) é marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos.

Nesse período predominaram algumas linhas de pensamento, dentre elas podemos elencar as seguintes:

Proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros do Hermetismo; nela se destacava a ideia da natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da natureza como um microcosmo;
Originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores;
Propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro).
A respeito da Filosofia Moderna (século XVII a meados do século XVIII) esclareça-se que esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes mudanças intelectuais:

Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”;
O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como consciência de si reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer;
A resposta à pergunta anterior constituiu a segunda grande mudança intelectual dos modernos e essa mudança diz respeito ao objeto do conhecimento;
Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente captada pelas ideias e pelos conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna.
Com relação à Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao início do século XIX) pode-se afirmar que esse período também crê nos poderes da razão, chamada de "As Luzes" (por isso, o nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que:

pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política;
a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível;
o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações;
há diferença entre natureza e civilização.
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este último costume ser colocado como filósofo do Romantismo).

Por derradeiro, com relação à Filosofia Contemporânea registre-se que essa abrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque as vemos surgir diante de nós.

[1]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1 Origem da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000.

[2] Texto adaptado da obra Curso de Filosofia do Direito, 6ª Ed. da autoria de Eduardo C.B. Bittar & Guilherme Assis de Almeida, Ed. Atlas, São Paulo, 2008.

[3]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1
Origem da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000.

[4]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 3
Campos de investigação da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000.

[5]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1 Origem da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000.


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